segunda-feira, 26 de outubro de 2009

7. A caçada

7. A caçada
A loja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus panos embolorados e livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou uma pilha de quadros. Uma mariposa levantou voo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas. ESTRANHAMENTO

ESTRANHO, MAS FAMILIAR
“A velha encarou-o. E baixou o olhar para a imagem de mãos decepadas. O homem estava tão pálido e perplexo quanto a imagem.”

O TÍTULO
Era uma caçada. No primeiro plano, estava o caçador de arco retesado, apontando para uma touceira espessa. Num plano mais profundo, o segundo caçador espreitava por entre as árvores do bosque, mas esta era apenas uma vaga silhueta cujo rosto se reduziria a um esmaecido contorno. Poderoso, absoluto era o primeiro caçador, a barba violenta como um bolo de serpentes, os músculos tensos, à espera de que a caça levantasse para desferir-lhe a seta.

Degradante aos olhos da rotina, MAS
- Parece que hoje está mais nítida...
- ..........................
- As cores estão mais vivas. A senhora passou alguma coisa nela?
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- Parece que hoje tudo está mais próximo disse o homem em voz baixa. – É como se... Mas está diferente?

“Parece coisa de doido”
Encontrou a velha na porta da loja. Sorriu irônica:
- Hoje o senhor madrugou.
- A senhora deve estar estranhando, mas...
- Já não estranho mais nada, moço. Pode entrar, pode entrar, o senhor conhece o caminho.

Quando a ficção vira realidade... ou o contrário?
E aquele cheiro de folhagem e terra, de onde vinha aquele cheiro? E por que a loja foi ficando embaçada, longe? Imensa, real só a tapeçaria a se alastrar sorrateiramente pelo chão, pelo teto, engolindo tudo com suas manchas esverdinhadas. (...) Estava dentro do bosque, os pés pesados de lama, os cabelos empastados de orvalho.

Quase real
Era o caçador? Ou a caça? Não importava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. (...) Vertia sangue o lábio gretado.
Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor!
“Não...” – gemeu de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração.

6. Antes do Baile Verde

6. Antes do Baile Verde

1. Enredo
2. Personagens: Tatisa, Lu, Pai, Raimundo.
3. Há uma antítese, no plano geral, que atravessa os diálogos entre Tatisa e Lu e que contrasta o conto: Refiro-me ao par
vida......morte.

Escarafunchando a narrativa

Cenário inicial
O rancho azul e branco desfilava com seus passistas vestidos à Luis XV e sua porta-estandarte de peruca prateada em forma de pirâmide, os cachos desabados na testa,a cauda do vestido de cetim arrastando-se enxovalhada pelo asfalto.(...)

Enquanto confecciona a fantasia verde
Sobre o título
“É um baile verde, as fantasias tem que ser verde, tudo verde.(...)”
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- Estive lá.
- E daí?
- Ele está morrendo.

O fio da conversa
- Você acha, Lu?
- Acha o quê?
- Que ele está morrendo?
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“- No outro carnaval entrei num bloco de sujos e me diverti á grande. Meu sapato até desmanchou de tanto que dancei...”

Insistente diálogo
- Não estou dizendo que você é culpada, Tatisa. Não tenho nada com isso, ele seu pai, não meu. Faça o que bem entender.
- Mas você começa a dizer que ele está morrendo!
- Pois está mesmo.
- Está nada! Também espiei, ele está dormindo, ninguém morre dormindo daquele jeito.
- Então está.

Consciência em briga
A jovem ficou diante do espelho, as pernas abertas, a cabeça levantada. Olhou para a mulher através do espelho:
- Morrendo coisa nenhuma, Lu. Você estava em os óculos quando entrou no quarto, não estava? Então não viu direito, ele estava dormindo.

Câmera lenta....
E apoiando-se ao corrimão, colada a ele, desceu precipitadamente. Quando bateu a porta atrás de si, rolaram pela escada algumas lantejoulas verdes na mesma direção, como se quisessem alcançá-la.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

5.MOÇO DO SAXOFONE

5. Moço do saxofone

1. Como nos dois contos iniciais da antologia Antes do Baile Verde, esse texto é atravessado de diálogos — todos relacionados ao ambiente da pensão, caracterizado como um frege-mosca.

2. O conto é aberto com a fala de um caminhoneiro, como muitos que frequentavam o espaço COMERCIAL da antiga prostituta.
“(...) Eu era chofer de caminhão e ganhava uma nota alta com um cara que fazia contrabando.” p. 44. Eis aí o narrador desse texto que, não suportava assistir às pessoas palitando dentes.”

3. Notas da impressão:
A comida, uma bela porcaria e como não bastasse ter que engolir aquelas lavagens, tinha ainda os malditos anões enroscando nas pernas da gente. E tinha a música do saxofone. p.44. Estamos diante do problema que dá título ao texto.

4. Outros personagens: além dos anões, da ex-prostituta, dos outros volantes, do moço do saxofone, é importante mencionar o companheiro de mesa do narrador: James, um tipo que engolia giletes.

5. Sobre a música e chifres:
Tocava bem, não discuto. O que me punha doente era o jeito, um jeito assim triste como o diabo (...) p.44 — É uma música desgraçada de triste. p.55
— A mulher engana ele até com periquito.
— Deitou com você?

6. O músico e a esposa viviam em quartos separados.

7. Ritmos distintos
Fui recuando de costas. E de repente não aguentei. Se ele tivesse feito qualquer gesto, dito qualquer coisa, eu ainda me segurava, mas aquela bruta calma me fez perder as tramontanas.
— E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá uma sova, não lhe chuta com mala e tudo no meio da rua? Se fosse comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me metendo, mas quer dizer que você não faz nada?
— Eu toco saxofone.
Fiquei broxa na hora, pomba!

HELGA

4- Helga ... ou resquícios do divã

1. O narrador traz no primeiro parágrafo um quadro descritivo da personagem Helga.

Ela era um só. Não havia outra e se quisesse compará-la com alguma coisa,seria com os tenros cogumelos dos bosques ou com as manhã de bicicleta nas estradas impecáveis ou com as primeiras cerejas da primavera. Era uma, uma, única, apesar de ter uma só perna, aliás bela como ela toda. Mas é cedo para falar não sobre sua beleza — que deve ser lembrada sem enfado quantas vezes for necessário — mas cedo para falar sobre a perna que vai exigir explicação. A perna envolve viagem, guerra, a perna vai tão além... Sem esclarecimento tudo será apenas crueldade. (p.37)

2. Em seguida, ele se apresenta: Paulo Silva, brasileiro. Mas fui alemão. Filho de alemã de Santa Catarina e desse Silva brasileiro que não cheguei a conhecer (...) Mas alemã mal vista porque se casou com o Silva, Paulo também, o que me faria Paulo Silva Filho. Mas nada disso vigorou, na escola eu já era Paul Karsten...

3. Depois das apresentações, interrompe a narrativa: “[...] Tudo aconteceu porque a terceira viagem foi no verão de 1939. Não vou contar minha guerra, Polônia, França, Grécia, Rússia...” e se volta para o título do conto, mas não prossegue; criando assim uma espécie de suspense no leitor —

A beleza de Helga e a sua perna. Confesso que durante muito tempo não sei em qual pensei mais, se na que tinha ou se na que perdera. Mas é cedo. (p.38)

4. Curioso é que hoje já não consigo lembrar qual perna que Helga perdera, se a direita ou a esquerda. E dizer que durante anos não houve dia nem hora que Helga não aparecesse no meu pensamento. Acha meu psicanalista que os esquecimentos parciais são freqüentemente formas sutis de autopunição. (p.38)

5. Assim que acaba a guerra, o narrador vende o capacete e seu punhal com a cruz suástica a um funcionário brasileiro. Depois disso, impossibilitado de voltar ao Brasil, torna-se uma espécie de comerciante do pós-guerra, aproveitando-se da identidade alemã: Paul karsten — o contato com Helga.

6. Cacos da guerra e ferida irônica
“(...) Revivo o tempo da contemplação de sua beleza e depois os interesses de fundo desejo. E lembro muito do casamento. Quanto ao amor por Helga, afirma o analista que não passa de um recurso autopunitivo que resolvi imaginar. O fato é que me casei e na própria madrugada de núpcias fugi para Hamburgo levando a perna ortopédica que em seguida vendi.” (p.42-43)

domingo, 19 de julho de 2009

Da Vinci e a velocidade da ausência




Mona Lisa é a pintura mais famosa do mundo e certamente a mais conhecida do artista italiano, Leonardo da Vinci. Não é por menos que essa obra tem suscitado inúmeras releituras nas mais diversas áreas do conhecimento. Trata-se de um quadro emblemático desse gênio do Renascimento e será digna de uma postagem especial em breve.

Depois de muito tempo, volto a este blog para tecer algumas reflexões sobre uma outra obra de Da Vinci, bombardeada de polêmicas após o lançamento do livro e também filme O Código da Vinci, best seller de Dan Brown. Adianto que não li o livro e apenas assisti ao filme, mas para aquilo que pretendo apresentar essas informações são suficientes.

Dispensando alguns elementos técnicos da análise pictórica — linha, perspectiva, jogo de luz, posição das personagens e ponto de fuga — o que mais atiça o meu olhar para esse mural é a mesa na horizontal. Eis aí um signo presente em vários rituais! Ao escolher essa parte da pintura, não estou preocupado em relatar o enredo bíblico que ela encena; tão pouco em mencionar as condições de sua produção; mas para pensar a questão da família, ou melhor, a redução da mesa e o encolhimento dos laços.


Em uma breve análise da família e do espaço casa, vamos perceber que do almoço na casa dos avós às rápidas refeições no apartamento muita coisa mudou. A pós-modernidade é uma espécie de afino da velocidade. “Ninguém tem tempo”. Estamos todos comprometidos com uma carga de tarefas. Os pais vivem correndo de um lado para o outro. Os filhos assistindo de camarote a esses avanços, sem tempo para comentá-los com os pais, que não possuem tempo para dedicar mais tempo à família. E repito insistentemente o vocábulo para brincar com uma outra verdade: o quarto cheio de uma pessoa só, no caso um filho diante do computador em cada quarto; os pais cuidando das obrigações ou também em seus quartos e a mesa lá na sala, pequena, solitária e correndo o risco de desaparecer. Ela não tem recebido nenhum comensal. A minha felicidade é que existe família que se reúne nos finais de semana para colocar a prosa em dia, falar da escola, do trabalho, dos projetos, dos namorados, da vida. Penso que a mesa é um espaço para que a gente possa falar dos nossos sonhos às pessoas mais próximas. É a metáfora da união, do encontro de discípulos.

Nesse sentido, não desmerecendo a riqueza de detalhes da obra A Última Ceia, rascunhei essa reflexão simplesmente para expor a escolha da mesa como rede de laços familiares e para que os nossos encontros sejam todos iluminados antes da última ceia.



domingo, 12 de julho de 2009

Redação sobre o perfil feminino em Senhora, de José de Alencar


Aurélia Camargo era uma carioca do século XIX. Nessa época, a mulher estava associada à esposa, mãe e dona de casa. As moças tinham um casamento arranjado pela família, que pagava um dote ao noivo. O divórcio era pouco praticado e malvisto pela sociedade. A imagem da mulher era relacionada à submissão em relação ao marido e a futilidades, como vestidos e jóias, beleza e elegância. Apesar de se encaixar no perfil feminino de sua época, Aurélia apresentava algumas características que a tornavam “à frente de seu tempo”, como a ousadia e a autonomia.

A mulher contemporânea possui um perfil muito diferente desse do século XIX. Ela adquiriu independência ao trabalhar fora de casa. O casamento deixou de ser essencial para a boa posição da mulher na sociedade e o divórcio tornou-se normal, seu percentual é cada vez maior. A mulher submissa é, agora, algo “fora de moda”.


Julieta Soares
2º Ano – E M